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O BLOG DO CONCELHO DE ALCANENA

25/01/08

Julgamento do idoso que matou o compadre


O julgamento começou na passada semana com homicida a negar agressão com forquilha, mas confessa o crime e bateu “onde calhou”

A primeira vez que Manuel Carvalho abriu a boca foi para fazer uma pergunta ao juiz presidente do colectivo: “O senhor doutor viu a forquilha? Está como eu, também nunca vi forquilha nenhuma”. O idoso de 86 anos que começou a ser julgado no Tribunal de Alcanena pelo crime de homicídio qualificado é acusado pelo Ministério Público de ter morto o seu vizinho e compadre Rogério Silva. Uma tragédia ditada por divergências antigas relacionadas com uma serventia utilizada por ambos.

A morte de Rogério Silva foi horrível. Durante vários minutos o juiz José Carneiro, presidente do colectivo, leu em voz alta excertos do relatório da autópsia que identificou dezenas de fracturas, lesões e perfurações graves – na cabeça, pescoço, tronco, membros inferiores e posteriores. Pouco escapou à fúria do agressor. Manuel Carvalho admitiu ter “batido onde calhou”, porque depois de ter desferido a primeira “porrada” na cabeça do vizinho, caíram-lhe os óculos “e já não via nada”.

Na primeira audiência do julgamento, o arguido confessou o crime mas negou sempre que tivesse utilizado uma forquilha encontrada pela GNR de Alcanena a cerca de oito metros do corpo da vítima. Manuel Carvalho diz que usou um pau de varejar azeitona, com cerca de 90 centímetros, “que encontrou à mão” naquela tarde de 26 de Junho de 2006, “quando tentava fugir” do vizinho, que “tinha corrido atrás dele ameaçando-o com um chapéu de chuva”, depois de se terem encontrado “por acaso” na estrada que liga Alcanena ao Casal da Arranjela, onde ambos moravam.

“Dei-lhe uma porrada com o pau na cabeça e ele caiu no chão, de barriga para cima. Mas tentou levantar-se para me bater e eu dei-lhe outra. Depois caíram-me os óculos e não vi nada, bati onde calhou”. Sempre com o pau, afiança. “A forquilha tinha sangue do senhor Rogério”, reforça Fernanda Ventura, um dos juízes auxiliares, olhando para Manuel Carvalho. Que não desarmou – “pode ter sangue dele mas meu não tem nada, porque não lhe mexi”.

Quer o médico que fez a autópsia, ouvido em vídeo-conferência, como os inspectores da Judiciária, salientaram que “dificilmente um pau de varejar azeitona causaria as feridas” que a vítima apresentava. Nomeadamente uma perfuração grave por baixo da orelha esquerda, com cerca de meio centímetro de diâmetro. “Há feridas compatíveis com um pau e com uma forquilha”, referiu o médico Artur Barbosa, antes de o inspector Júlio Martins ter garantido que “a forquilha foi usada e fez muitos buracos”.

De casaco castanho, calças beges e boné xadrez sempre na mão, Manuel Carvalho saiu da sala de audiências como entrou – de cabeça branca bem erguida e olhar sereno. Tão sereno como quando respondeu à pergunta do juiz: “Porque é que o senhor fez isto?”. “Porque tinha que acontecer”. Manuel Carvalho está há um ano em prisão domiciliária, depois de ter cumprido quatro meses de prisão preventiva em Torres Novas. Incorre numa pena entre os 12 e os 25 anos de prisão.

Por: Margarida Cabeleira in "O Mirante"

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